sexta-feira, 27 de julho de 2012

Debate sobre Intolerância Religiosa na Vila Maria

No dia 11 de Julho, a partir das dezoito horas, o Centro de  Referência da Cultura Afro-brasileira– CCAB organizou, na Casa de Cultura Villa Maria, o I Debate sobre Intolerância Religiosa, o qual contou com a presença de líderes e praticantes das religiões de matriz afro-brasileira, num total de 40 pessoas.

Na ocasião, a professora Lana Lage, coordenadora da CCAB, apresentou os resultados parciais da pesquisa sobre intolerância religiosa em Campos dos Goytacazes, que tem como foco as relações e conflitos entre adeptos das religiões neopentecostais e das religiões de matriz afro-brasileira. Foi também exibido o documentário Conflitos da Fé, produzido pelo Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos – InEAC, com a participação de pesquisadores do CCAB em sua equipe de produção.

A professora destacou a importância da divulgação dos resultados das pesquisas realizadas na universidade entre as pessoas que colaboraram, dando seus depoimentos e permitindo que os pesquisadores conhecessem parte de suas vidas. Considerou ainda esse processo de retorno à comunidade fundamental para a produção do conhecimento, pois, ao mesmo tempo em que dá acesso às reflexões produzidas pela academia sobre os fenômenos sociais por parte da população, permite que a sociedade avalie e critique os conhecimentos produzidos sobre si mesma. Esse movimento, que tem sido denominado via de mão dupla entre universidade e sociedade, é o que permite que a ciência não se desvincule do que deve ser sua missão primordial, que é melhorar a vida das pessoas, mormente quando se trata de uma instituição pública, que deve prestar contas do que realiza para a população que sustenta a pesquisa com seus impostos.

O vídeo apresentado contém depoimentos pungentes de membros de várias religiões, inclusive as de matriz afro-brasileira, sobre atos de discriminação sofridos, motivados por suas opções religiosas, embora a Constituição assegure a todos no Brasil a liberdade de culto e exista uma lei específica – Lei Caó – que criminaliza esses atos discriminatórios. Contém ainda análises e reflexões dos antropólogos, historiadores e estudantes universitários, que participaram da pesquisa no Estado do Rio de Janeiro.


A pesquisa realizada em Campos pela equipe do CCAB, relatada na ocasião, mostrou que essa situação também é vivida pelos adeptos das religiões de matriz afro-brasileira da cidade, que têm sofrido agressões verbais e físicas, sobretudo por parte de membros da Igreja Universal do Reino de Deus.

O vídeo motivou vários depoimentos dos presentes sobre atos discriminatórios semelhantes vividos em Campos e as formas encontradas de lidar com essa realidade que afronta as leis brasileiras. Esses depoimentos provocaram reações de comoção e solidariedade, permitindo a aproximação entre membros dessas religiões, alguns dos quais não se conheciam.

Os relatos realizados durante o encontro apontaram para a necessidade de haver uma conscientização maior sobre o problema e de se procurar formas coletivas de lidar com esses casos, como explicitaram algumas lideranças. O debate teve participação ativa de todos, jovens e adultos, lideranças e neófitos, preocupados com a garantia da preservação de seus cultos e com o efetivo exercício de seus direitos como cidadãos de um estado laico.

As discussões, que começaram por volta das dezenove horas, ainda estavam acaloradas por volta das vinte e uma horas, quando a professora Lana Lage lembrou a necessidade de encerrar o evento, provocando o seguinte comentário de um dos presentes: “É bom mesmo, professora, a senhora terminar, porque senão vamos ficar contando nossos casos a noite toda”. E de fato, muitas situações de discriminação, constrangimento e violência foram relatadas, evidenciando ser esse um grave problema social.

A professora agradeceu, então, a presença de todos, pediu a colaboração dos presentes para a continuidade da pesquisa e convidou-os para um pequeno coquetel, oferecido no salão contíguo, onde as discussões se prolongaram e todos puderam se confraternizar.

Um dos convidados propôs a realização de uma nova reunião, em espaço cedido pela UENF, que em princípio deve acontecer no dia 8 agosto. O entusiasmo diante da proposta evidenciou que o evento cumpriu seu papel, motivando a comunidade a refletir coletivamente sobre seus problemas e partilhando as informações e reflexões produzidas pela universidade, ao mesmo tempo em que produziu condições para a continuação e aprofundamento da pesquisa.


Assita ao vídeo produzido pelo InEAC, com a participação do NEEV

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